Três dias de Festa<br>três dias de desporto

José Augusto

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O sport é a revelação do corpo humano
na sua imitação da alma na ambição de conquistar.
O corpo conquista o que a alma deseja: isso
é o amor; a alma conquista o que o corpo
deseja, isso é o outro amor. Mas no sport o corpo
conquista o que a alma conquista; vão juntos na dinâmica.

Álvaro de Campos

Três dias de Festa foram, também, três dias de desporto. Pelo espaço desportivo passaram milhares de pessoas simplesmente para verem o que nunca tinham visto: nas mais diversas disciplinas, individuais e colectivas, exibiram-se muitas centenas de atletas. Alguns deles alcançaram o direito de competirem na Atalaia depois de terem ultrapassado provas ou torneios de apuramento que, ao longo dos meses, se realizaram um pouco por todo o País.

A Corrida da Festa envolveu mais de dois milhares de participantes, repartidos por 180 equipas, e dezenas de organizadores. Foi, como sempre, um dos pontos altos do programa. Mas outras modalidades reafirmaram a sua popularidade, como a malha, os matraquilhos, o xadrez, os jogos tradicionais, as artes marciais e desportos de combate, a ginástica e suas diversas variações, o jogo do pau e a esgrima, o boxe, os trampolins e a patinagem artística; também os jogos colectivos, como futsal, basquetebol, voleibol e hóquei em patins. Uma referência, ainda, para o boccia e a dança adaptada, em atenção dos portadores de deficiência. É bom de ver que se trata de um programa consagrado a atletas de todas as idades, níveis de condição física e capacidade competitiva.

A Festa empenhou-se em popularizar o desporto, um direito inscrito na Constituição, mas, como muitos outros, deitado ao desprezo pelos vários governos que vão desgraçando os portugueses. A Festa defendeu, uma vez mais, que o desporto deve ser para todos.

É óbvio que, mesmo neste ambiente de franco convívio e camaradagem, ninguém gosta de perder. Mas os vencedores souberam ganhar com respeito, enquanto os vencidos mostraram dignidade no momento da derrota.

A beleza e a solidariedade
na Grande Corrida da Festa

Se não há Festa como esta, não há corrida como esta! É o que disseram à nossa reportagem tanto os vencedores como aqueles que se deslocaram à Atalaia para inscreverem o seu nome na tabela classificativa.

Sandra Protásio, do Sporting Clube de Portugal, deixou o coreto de Amora, bordejou a marginal numa manhã que o Verão ainda não tinha tido, declinou para as marginais de Arrentela e do Seixal, inverteu na rotunda da Estação Fluvial e entrou na porta da Atalaia junto ao rio para cortar a meta com um sorriso nos lábios.

«Vim, sobretudo, para testar-me, depois de ter sofrido uma lesão de certa gravidade. Senti-me bem e foi isto…ganhei! E digo-vos que esta corrida é lindíssima, e que este ambiente não se encontra em nenhuma outra parte» – disse-nos a Sandra. «Mesmo antes de correr – lembrou – já vinha à Festa, porque, como dizem, e é verdade, não à festa como esta. Mas claro, se não puder ganhar, que ganhem as outras.»

No sector masculino, Nelson Cruz, do Clube Pedro Pessoa, não deu hipóteses à concorrência. Trilhando o mesmo trajecto das companheiras, impôs o ritmo que queria para entrar em primeiríssimo na Atalaia. Ainda a repor-se do esforço, disse à nossa reportagem: «Esta prova é diferente de todas as outras que tenho corrido, e foram muitas. Sente-se que estamos num clima de festa, há entusiasmo e calor humano. Claro que alguns dos meus companheiros estão aqui para competir, mas creio que a grande maioria vem a esta corrida porque ela tem uma organização de excelência e estimula o companheirismo, que tanta falta faz neste mundo em que nos movimentamos». E a rematar: «Posso assegurar que esta é uma das provas mais credíveis a nível nacional».

Onde se falou de coisas importantes

Como habitualmente, a estrutura desportiva da Festa e o PCP, até parece que são coisas diferentes, juntou-se num almoço, finda a Corrida. Por lá se viram muitos autarcas, como Joaquim Santos, presidente da Câmara Municipal do Seixal, Otávio Augusto, do Comité Central do PCP, vereadores, técnicos do Desporto, dirigentes desportivos e associativos, atletas no activo e na reforma, a conhecidíssima Luzia Dias, entre outros. Foi um belíssimo momento em que houve oportunidade para trocar ideias, reforçar amizades e falar do desporto que devíamos ter e não temos.

A organização do PCP distribuiu um documento importante intitulado «Uma Nova Política para Educação Física e Desporto» que, por ter sido muito bem esgalhado, chamou a atenção dos que estiveram ou não no almoço. Denuncia-se, por exemplo, nesse documento que as crianças «que frequentam o 1.º ciclo do Ensino Básico continuam sem Educação Física, pedagogicamente integrada no currículo escolar, o que prejudica seriamente o seu desenvolvimento integral, aquisição das aprendizagens motoras essenciais realizadas no período crítico, impedindo contribuição na luta contra o insucesso escolar, no combate ao sedentarismo e na prevenção de certas doenças como obesidade».

Na Festa em todas as suas variantes come-se, bebe-se, diverte-se e, o que é mais importante, aprende-se.

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A ganhadora

 Sandra Protásio ganhou com autoridade o bonito trajecto da Corrida da Festa. Foram pouco mais de 10 000 metros a correr entre a Baía e a suave colina que a envolve. Simpática (aliás, como podia ser de outra maneira?), começou por nos dizer que foi a terceira vez que participou nesta Corrida. «É lindíssima, ainda mais por fazer parte do programa da Festa do Avante!.» E continuou: «É uma corrida muito particular, como a própria Festa que a enquadra. É a terceira vez que venho correr, mas deu-me para ver o empenho da Câmara Municipal do Seixal na massificação do desporto, o que é de louvar».  

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Malhistas que malham certo

A malha, no regime federado ou não, é sem dúvida um dos desportos mais populares em todo o País, mas essa popularidade assome extremos no Alentejo. É evidente que isso se reflete no torneio da malha da Festa do Avante! nas suas várias disciplinas. António Tereso e António Pequeno, que são de Pinhal de Frades, impuseram-se a José Albano e Manuel Silvestre, que são de Paio Pires. Diogo Correio e António Matias tiveram que se contentar com o terceiro lugar do pódio.

Na malha tradicional brilharam Clara Rego e Maria Cruz, do Clube Recreativo da Cruz de Pau, que deixaram para trás Hortense Nobreira e Maria Odete, da Associação Unitária de Reformados, Pensionistas e Idosos de Paio Pires, e Ana Coelho e Odete Santos, da colectividade primeiro referenciada.

Em todas as diversidades da malha não nos podemos esquecer da dita pequena. Como sempre, houve muita luta. E quem não acreditar, que vá ver a arte e a precisão a pedir meças aos mais virtuosos dos trabalhos malabares. Os mais subtis neste capítulo que tem muito que se lhe diga, os melhores foram os malhistas da Baixa da Banheira, que levaram de vencida os seus camaradas de Alhos Vedros e do Sport Chinquilho Arroteense.

 

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As grandes modalidades

Como sempre muito disputadas e envolvidas por um calor humano, pouco visto nos nossos recintos desportivos, a Festa ofereceu competições de alto nível. Gostaríamos de falar do basquetebol, do vólei e do hóquei. O que não quer dizer absolutamente nenhuma, que aquelas modalidades não sejam tanto preferenciadas, participadas e aplaudidas por todos os amantes do desporto que acorrem a Atalaia.

E agora temos que dizer que o Seixal Futebol Clube 1925 ganhou à Escola de Santo André, que o Clube Lobato Vólei venceu o Clube Recreativo da Piedade, estamos a falar de séniors, e que em benjamins o Grupo Desportivo Fabril ganhou por 5:0 ao Seixal Futebol Clube 1925.

Os comunistas, que somos nós, e tantos amigos que vêm connosco à Festa, dizem que temos que ganhar com honra e perder com dignidade. Seria bem que todo o largo mundo, interno e externo, assimilasse esta coisa tão comezinha.

 



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